8. O expressionismo alemão pag. 46

O espanto e o sucesso de Caligari vão fazer desencadear uma onda irreprimível de filmes alemães que seguem, com maior ou menor fidelidade, o modelo do filme de Wiene. Dentre as várias dezenas de cineastas que se celebrizaram no interior do movimento expressionista, dois certamente são lembrados como os mais importantes. O primeiro é Fritz Lang, já um veterano diretor e roteirista à época de Caligari, mas cujo primeiro filme genuinamente expressionista é Der Müde Tod (A Morte Cansada/1921), um clássico do cinema alemão, que trata do tema da inevitabilidade da morte. Lang era um arquiteto de formação e trouxe ao cinema uma visão obsessiva e rigorosamente arquitetônica, com os cenários gigantescos ocupando o lugar central da narrativa e quase que esmagando os personagens com a sua presença ostensiva.

Metropolis (1926)
Der Müde Tod (A Morte Cansada/1921)

Assim é que tanto nas duas partes de Nibelungen (Os Nibelungos/1923-24), como na ficção científica Metropolis (1926) e nos policiais Dr. Mabuse, der Spieler (Dr. Mabuse, o Jogador/1922) e M: Mörder unter uns (M, O Vampiro de Düsseldorf/1931), os cenários desempenham um papel tão fundamental, a ponto dos atores chegarem muitas vezes a se dissolver dentro deles e se tornar peças da grande engrenagem cenográfica que os envolve e devora. Outro diretor importante do mesmo período, Friedrich Wilhelm Murnau, se mostrará um pouco mais comedido no uso da cenografia e preferirá deter-se mais preferencialmente na caracterização dos personagens. Murnau foi o responsável por alguns dos filmes mais densos e dramáticos do expressionismo, como Nosferatu (1922), versão alemã da história de Drácula, Der Letzte Mann (O Último Homem/1924) e Faust (Fausto/1926).

Nibelungen (Os Nibelungos/1923-24)
Metropolis (1926)
Dr. Mabuse, der Spieler (Dr. Mabuse, o Jogador/1922)
M: Mörder unter uns (M, O Vampiro de Düsseldorf/1931)

Caligari é o filme que dá as coordenadas principais do filme expressionista e, nesse sentido, vai exercer uma enorme influência sobre todo o cinema alemão dos anos 20. Entre as várias características desse filme que serão assimiladas pelo cinema da época podemos citar: o gosto pela deformação, pelo exagero e pelo anti-naturalismo da representação; o peso esmagador da decoração, dos cenários e da paisagem de fundo; a estilização ou simplificação dos cenários, chegando muitas vezes à pura abstração; o impacto visual resultante do violento contraste entre as massas negras e brancas; a interpretação exagerada dos atores, com gestos extremos e os olhos parecendo querer sair para fora das órbitas; os movimentos dos atores marcados por uma coreografia solene e algo robotizada; os figurinos insólitos; o papel fundamental da iluminação como recurso expressivo, fazendo projetar pesadas sombras na paisagem (às vezes, partes inteiras da narrativa são apresentadas unicamente através de projeções de sombras).

Nosferatu (1922)
Nosferatu (1922)
Der Letzte Mann (O Último Homem/1924)
Faust (Fausto/1926)