De fato, a maioria esmagadora dos historiadores concorda que o expressionismo só é realmente incorporado ao cinema em 1919 com o surgimento de um filme singular, cujo sucesso de crítica e de público vai desencadear um verdadeiro movimento de renovação do cinema alemão. Esse filme foi Das Kabinet des Dr. Caligari (O Gabinete do Dr. Caligari), realizado por um diretor – Robert Wiene – que nunca mais conseguiria repetir o sucesso artístico e comercial desse verdadeiro marco na história do cinema. Há, todavia, uma controvérsia em torno do filme, ainda hoje não inteiramente resolvida. O historiador Siefried Kracauer afirma que a introdução e o final foram acrescentados posteriormente pelos produtores, para tornar a história melhor deglutível pelo grande público. Uma vez que o filme apresentava imagens inteiramente deformadas e irreais, era preciso justificar esse procedimento a um público acostumado com um cinema de tipo naturalista, como o de Griffith por exemplo. A abertura e o epílogo situam a história num hospício e identificam o narrador e personagem principal como um louco que estava ali internado. Dessa forma, toda a estranheza do filme se justifica pelo fato da história estar sendo narrada e visualizada por um psicopata. Segundo Kracauer, porém, o objetivo original da equipe que realizou o filme não era representar um mundo filtrado pelo ponto de vista de um demente, mas um mundo que é absurdo por natureza e que não pode ser maquiado por uma explicação racional.
De qualquer forma, Caligari inaugura um cinema atormentado e sombrio, um cinema cheio de angústia e maus presságios, que, não sem motivo, irá influenciar toda a longa tradição do filme de terror no cinema. O que marca mais fortemente essa experiência de Wiene são os seus cenários delirantes e radicalmente anti-realistas. Totalmente filmado em estúdio, como a maioria esmagadora dos filmes expressionistas, Caligari mostra uma paisagem retirada diretamente de algum pesadelo, com as casas inclinadas, parecendo despencar sobre os personagens, as ruas tortas, formando estranhos caracóis, e um grafismo abstrato e pesado superposto a todas as formas. Os cenários tortuosos foram construídos por Hermann Warm e em seguida pintados por Walter Reimann, um conhecido artista expressionista da época. É o trabalho desses artistas que dá o tom sobrenatural e angustiado do filme. Some-se a isso a carregada maquiagem nos rostos dos atores, as faces pálidas deixando entrever as olheiras profundas e os lábios pesadamente negros (o que, aos olhos dos atuais espectadores, mais parece traduzir personagens produzidos para algum baile punk), os movimentos robóticos do sonâmbulo César e da mocinha Jane, as expressões e os gestos convulsivos do Dr. Caligari, tudo isso cria um clima de alucinação coletiva e de profunda melancolia, que vai assustar e seduzir os primeiros espectadores do expressionismo cinematográfico.