6. O cinema de vanguarda pag. 37

O cinema de vanguarda, que fez furor nos anos 20, praticamente desaparece nas décadas seguintes. Alguns analistas costumam apontar o surgimento do som sincronizado como a principal causa desse desaparecimento. Esse argumento, na verdade, é pouco convincente, pois a grande maioria dos filmes que podem ser classificados como vanguardistas já previam a combinação das imagens com os sons e souberam utilizar com muita criatividade o acompanhamento sonoro, mesmo que este ainda tivesse de ser produzido ao vivo, durante a exibição dos filmes. O que vai acontecer de fato a partir de 1930 é uma conjuntura política extremamente hostil a toda vanguarda, com a monopolização do poder por Stálin na Rússia, Mussolini na Itália, Hitler na Alemanha e a generalização de governos conservadores por toda a Europa. Todos esses governos, apesar dos diferentes matizes ideológicos, vão encarar os movimentos de vanguarda como formas degeneradas de arte e muitos vão chegar mesmo a censurar as obras e perseguir os realizadores. A partir de 1930, portanto, as perspectivas para a arte de vanguarda se tornam sombrias: alguns criadores migram para a América, outros passam para a clandestinidade e alguns chegam mesmo a apelar para a solução extrema do suicídio. 

Antes, porém, da derrocada final da vanguarda, o movimento ainda ganharia uma de suas últimas obras-primas, graças a um filme singular que, inexplicavelmente, vinha de um país muito distante de todo o burburinho da cena artística da época. Trata-se de Limite, realizado no Brasil em 1930, depois do seu realizador Mário Peixoto ter passado uma temporada na Europa e tomado contato com todo o clima de renovação do cinema. Limite é quase um inventário de todos os procedimentos formais e estilísticos experimentados na Europa nos anos 20, ao mesmo tempo em que dá uma interpretação bastante pessoal (e também mais “tropical”) às ideias estéticas de Clair, Buñuel, Ray e também dos expressionistas alemães. O filme fez sucesso em Londres e Paris, onde foi exibido para um público de aficionados e especialistas, mas no Brasil ele foi recebido com frieza. O país ainda não estava preparado para um cinema de vanguarda.

Limite (1930)